Essa sou eu, mulher, em São Paulo

Essa sou eu, que ao caminho de uma atividade rotineira qualquer lembrou de uma passarela no meio do caminho, atravessando a avenida, e só torceu para chegar bem do outro lado.

Essa sou eu, que ao andar em uma rua escura e vazia a noite, procura sombras se movendo alem da minha, e tira os fones para ouvir alguém que poderia se aproximar.

Essa sou eu, que depois de ser assaltada sentiu medo de entrar no camburão e ir pra delegacia. "Qual chance eu tenho com esses caras grandes e armados?".

Essa sou eu, que anda grande parte do tempo de fone de ouvido e óculos escuros, para evitar ouvir e ver as obscenidades que são direcionadas a uma mulher no dia a dia, como se isso não fosse ofensivo.

Essa sou eu, que ha alguns anos atras indo fazer compras a luz do dia bati e berrei contra um cara que tentou me agarrar e jogar no chão, na tentativa de fazer algo pior.

Essa sou eu que não conseguiu evitar o sentimento de alivio profundo ao ler que alguém com as mesma características físicas foi linchado ate a morte por tentar estuprar uma menina em um bairro vizinho.

Essa sou eu, que precisa sentar com vocês e conversar sobre um assunto tão serio...
Moro em São Paulo, uma cidade que cada dia parece perder o respeito um pouco mais em relação a mulher, não que seja uma característica isolada dessa capital, infelizmente, mas esse é o exemplo que eu vivo. Não conheço uma amiga que ande na rua sem ouvir uma "cantada" extremamente invasiva (sim, isso é abuso), gostaria de conhecer menos mulheres que já tenham sido tocadas e invadidas por familiares, conhecidos, namorados, pessoas de confiança e definitivamente gostaria de pensar em um mundo que mulheres não sintam medo, medo de voltar pra casa tarde, medo de usar uma roupa mais curta, medo de ficar sozinha com alguém e medo de denunciar.

Foto do Project Unbreakable, que visa ser um meio de conscientização e desabafo para mulheres que sofreram abusos
Não é fácil viver em uma sociedade que ser abordada por estranhos na rua é considerado algo normal, em uma sociedade que a denuncia de qualquer nível de abuso é desencorajada, que a vitima de algo do tipo é sempre a culpada e o agressor quase sempre é solto.
Lendo hoje o Bendita Zine eu chorei, chorei porque não sou a única, chorei muito mais por ver o medo que as mulheres sentem de falar isso com as pessoas, historias de meninas que eram abusadas por familiares e não tinham forças de denunciar, por medo que a mãe fosse culpar ela, por medo do agressor matar ela ou alguém próximo.... 

Que mundo é esse que a mulher é criada para sentir somente medo? 

Faço um apelo, se você tem filhos, ensine os a respeitar, que mulheres e homens são seres humanos da mesma maneira e sim, tem o direito de simplesmente viver, sem alguém julgando suas roupas, seu corpo, sua vida e muito menos sem alguém invadir sua vida contra sua vontade. Se você tem filhas, ensine a elas que ninguém tem direito de toca las, falar obscenidades ou ameaça las.

Quem sabe desse jeitinho, lentamente o Brasil vai se tornando um lugar mais aceitável para se viver.

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xoxo

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